Os perigos das técnicas aversivas na educação canina
A educação canina é um tema que apaixona especialistas e tutores e faz audiências em programas de televisão. Todos estão interessados em saber as novidades apresentadas pelos últimos dados científicos. Desta vez, uma equipa de investigadores portugueses trouxe à luz recomendações, algumas já sabíamos pelo bom senso.
O objetivo do estudo, realizado por investigadores da Universidade do Porto, era o de realizar uma avaliação exaustiva dos efeitos a curto e longo prazo dos métodos de treino baseados em aversões e recompensas no bem-estar dos cães.
Para isso, analisaram o comportamento de 92 cães que realizavam treino em 7 centros de educação canina, 3 deles positivos, ou seja, usam técnicas baseadas em oferecer recompensas para incentivar certos comportamentos e 4 aplicam técnicas aversivas (punições, etc.)
Para a avaliação do bem-estar a curto prazo, os cães foram filmados durante três sessões de treino. Também foram recolhidas amostras de saliva, três em casa (níveis de referência) e três após as sessões de treino (níveis pós-treino) .
As gravações de vídeo foram usadas para examinar a frequência dos comportamentos relacionados com o stress (como lamber ou bocejar) e o estado geral do comportamento do cão (tenso, relaxado etc.), e as amostras de saliva foram analisadas para aferir a concentração de cortisol (a hormona libertada quando os animais se encontram sob stress).
Os investigadores verificaram que a frequência de estímulos aversivos utilizados no treino (em diferentes escolas) mostrou uma correlação direta com todos os indicadores de bem-estar medidos. Ou seja, quanto maior a frequência de estímulos aversivos utilizados no treino, maior o impacto no bem-estar doa animais, a curto e longo prazo.
Muitos dos cães avaliados apresentaram problemas devido a um tratamento aversivo, apontaram os investigadores, exemplificando, desde o uso de colares, choques elétricos, fome, punições físicas aconselhadas pelo “treinador”, a pequenos toques, gritos, confinamento, “fazer saber quem é que manda”, misturado com recompensas ou brincadeiras.
E mesmo o que os donos achassem que estavam a optar por um tratamento mais amigável: levar o cão para todo o lado, pô-lo a brincar e a correr no parque, recompensas e guloseimas a toda a altura e sem motivo… O que, reafirmam os cientistas, leva os donos a dizer estarem a fazer de tudo e a sentirem-se dececionados.
É normal que os tutores queiram soluções rápidas, eficazes e quase mágicas. Mas, infelizmente, elas não existem. Os processos de longo prazo são demorados, trabalhosos, implicam esforço, sacrifício, deceções, altos e baixos e nem mesmo uma recuperação completa pode ser garantida.
O problema, reforça este estudo, é acreditar em muitas das mensagens publicitadas por alguns programas televisivos ou difundidos no mundo virtual, que é possível mudar o comportamento de um cão em poucas horas. Ao invés, os cães precisam de tempo, compreensão e, acima de tudo, respeito para que possam aprender e melhorar e, é claro, não usar métodos que possam agravar o seu comportamento. No fundo…tal como nós J
Consulte o estudo integral aqui.